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Trabalho
, Museu  de Arte de São Paulo – MASP

curadoria de Fernando Oliva
(18 agosto 2016—29 janeiro 2017)



                   
                   Trabalho (2013-16) surge a partir de um jogo de relações — profissionais, pessoais e afetivas — entre Thiago Honório e um grupo de trabalhadores da construção civil. O artista negociou com pedreiros e mestres de obras a troca ou doação de seus instrumentos ou suas ferramentas de trabalho, que agora compõem esta instalação. São pás, talhadeiras, escadas, picaretas, enxadas, marretas, desempoladeiras, serrotes, foices roçadeiras, rolos, pincéis, espátulas, entre outros, que foram utilizados no restauro de uma antiga estação de fornecimento de energia da empresa Light, um edifício da década de 1920 na praça da Bandeira, centro de São Paulo, transformado no centro cultural Red Bull Station.

                  Iniciado no âmbito de uma residência artística, o trabalho de Thiago Honório embaralha os lugares e sentidos da arte: transitando pelas mãos dos operários, na operação de deslocamento promovida pelo artista, no restauro realizado com as ferramentas, e por fim na arquitetura do espaço onde ele agora está instalado. Do ponto de vista ético, o artista compreendeu que o recebimento do que chama “dádivas”, por parte dos trabalhadores, só poderia resultar numa doação de Trabalho a um museu, e é assim que ele chega ao MASP. A aparência áspera, bruta, fria dos instrumentos-elementos de Trabalho contrasta com a percepção tradicional das “belas-artes”, mas também está alinhada com as próprias características da arquitetura brutalista, sem revestimentos ou acabamentos luxuosos, do edifício do museu (ela também em contraste com a arquitetura refinada dos museus de belas-artes tradicionais).

                 Há uma complexa operação metalinguística em curso — as ferramentas dos trabalhadores remetem às do escultor, porém aqui elas mesmas se tornam esculturas. Por outro lado, ferramentas expostas de maneira ereta assumem uma verticalidade antropomórfica (remetendo à forma do corpo humano), que acaba por representar, de maneira metonímica, os próprios trabalhadores que um dia as possuíram (a metonímia é a figura de linguagem que substitui o objeto ou sujeito por algo próximo dele). Estamos portanto diante de uma fileira de retratos de trabalhadores, o que se torna particularmente relevante se lembrarmos que o Vão Livre do MASP foi tantas vezes local de manifestações e reivindicações trabalhistas de toda ordem.

                 A presença do trabalho de Thiago Honório vai ao encontro de preocupações atuais do programa do museu, no que se refere à revisão crítica não só de artistas, mas de técnicas, linguagens e modos de produção que foram deixados de lado, eclipsados pelas narrativas hegemônicas da história da arte, frequentemente por não estarem associados aos modos, gostos, ofícios e estilos das classes dominantes. Essas questões estão claramente presentes na reencenação de A mão do povo brasileiro — a histórica exposição de Lina Bo Bardi de 1969, que ocupará o primeiro andar do museu a partir de 1o de setembro de 2016. No lugar de arte ou de artefato, Lina propunha justamente a noção de trabalho para dar conta tanto de uma pintura de Candido Portinari, quanto de uma ferramenta, ambas afinal produtos de um trabalho humano, daí a pertinência deste Trabalho.




OBRAS

Trabalh0, 2013-2016

TEXTOS
Enigmático território do comum, Bianca Dias





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